Sola Scriptura na busca da verdade

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O Ministério Profético Segundo a Bíblia

Este estudo tem por objetivo fazer uma ampla análise do ministério profético apresentado na Bíblia. É de importância crucial que o povo de Deus conheça este assunto, ou pelo menos tenha uma noção básica dele, pois o tema “profetismo” tem sido muito distorcido nos nossos dias por alguns grupos eclesiásticos e sectários. Portanto, este estudo visa responder perguntas do tipo: onde, quando e como começou o ministério profético bíblico? A profecia no Novo Testamento é igual a do Antigo Testamento? Devemos acreditar que existam profetas hoje? Qual era a função dos profetas?

É comum atualmente, vermos no meio evangélico, pessoas serem chamadas de profetas, ou serem referidas como possuindo o dom de profecia, ou ouvirmos relatos de mensagens espirituais que são proferidas e acabam se cumprindo, ou coisas desse tipo. Na vasta maioria das vezes, não há conhecimento por parte dessas pessoas do que de fato seja o ministério profético de acordo com a Bíblia. Dessa forma, elas acabam falando do que não conhecem e acreditam em algo não porque tenha convicção de que suas práticas e crenças sejam bíblicas, mas por conta de suas próprias experiências ou de experiências de outrem, ou até mesmo, porque é a posição de sua igreja.

Contudo, desejamos fazer uma análise desse tema e tentar descobrir o que de fato a Bíblia ensina acerca desse assunto. Para isso, recorreremos a ambos os Testamentos para termos uma visão geral do surgimento, modelo, natureza e propósito do ministério profético. Nessa primeira parte do estudo daremos uma breve introdução ao profetismo do Oriente Médio Antigo, e depois falaremos sobre o surgimento do profetismo na nação de Israel. A natureza, método e outras características ficarão para os próximos estudos.


1. A profecia no Antigo Oriente Próximo

Homens que falavam em nome de um ser divino, que prediziam o futuro e comunicavam algum tipo de mensagem sobrenatural, não eram particularidades do povo de Israel. As demais nações do mundo antigo também possuíam os seus profetas. Alguns escritos históricos da importante cidade-estado de Mari revelam a existência de uma corporação de profetas que se especializavam em várias habilidades, inclusive a previsão do futuro[1]

Um belo exemplo desse tipo de profetismo pode ser lido nos capítulos 22-24 do livro de Números. O texto nos conta a história de um profeta pagão chamado Balaão, que é contratado pelo rei da Nação de Moabe para amaldiçoar a nação de Israel.

Mas existia uma diferença atenuante entre o profetismo de Israel e o dos outros povos. Essa diferença é muito bem explicada por Eugene Merrill em seu livro História de Israel no Antigo Testamento, onde ele comenta o ato profético de Balaão:

Imagina-se que a técnica usada por Balaão consistia em usar o poder da palavra proferida unida a capacidade de prever o futuro, trazendo a existência aquilo que estava sendo solicitado. Assim, Balaão diferenciava-se do nabi (Profeta) ou ro’eh (Vidente) do Antigo Testamento, que eram apenas mensageiros que proclamavam a vontade de Deus, mas não a manipulavam. Balaão agiu, ao menos, como um Barû ou mahhû – um profeta que se utilizava de vários meios para discernir e interpretar os presságios. Ele também era visto como um manipulador, ou seja, alguém que possuía a capacidade de persuadir os deuses.[2]

A particularidade do profetismo de Israel era sua forma, pois os profetas serviam apenas como canais da revelação de Deus e não como manipuladores dos deuses e da mensagem divina.


2. O surgimento do profetismo em Israel e seu propósito

Podemos encontrar as origens do ministério profético bíblico nas páginas do Antigo Testamento. Ele iniciou-se com Moisés à época do êxodo de Israel. Antes disso, Deus se revelava pessoalmente aos lideres dos clãs patriarcais, como aconteceu com Abraão, Isaque e Jacó. Mas a época do êxodo a nação de Israel já possuía um contingente de mais de 1 milhão de pessoas e agora Iavé iria designar homens para servirem como porta-vozes de sua mensagem, não mais se revelando de maneira exclusiva aos lideres de clãs.

Israel tinha passado por uma emocionante experiência na qual Deus se revelou pessoalmente ao povo no monte Sinai (Dt 18.16). Israel ouviu a voz trovejante de Deus e essa experiência assustadora fez com que eles pedissem um mediador, um porta-voz que trouxesse as mensagens de Deus.

Mas mesmo antes desses acontecimentos podemos ver alguns indícios do inicio do movimento profético em Israel. Veja o que diz Êxodo 4.14-16: “Então se acendeu a ira do Senhor contra Moisés e disse: Não é Arão, o levita, teu irmão? Eu sei que ele fala fluentemente; e eis que ele sai ao teu encontro e, vendo-te, se alegrará em seu coração. Tu, pois, lhe falarás e lhe porás na boca as palavras; eu serei com a tua boca e com a boca dele e vos ensinarei o que deveis fazer. Ele falará por ti ao povo; ele te será por boca e tu lhe serás por Deus” (ARA).

Por falta de eloqüência, Moisés achava que não poderia servir como veículo da palavra de Deus ao povo. Deus então, diz que Arão lhe servirá como porta-voz. É interessante a analogia usada por Deus no versículo 16. Iavé diz que Arão será para Moisés como uma boca comunicando as suas mensagens, e Moisés será como um Deus para Arão comunicando a sua mensagem para o mesmo entregue-a ao povo. Entendemos então, que um profeta era a boca de Deus, por assim dizer. As suas palavras eram as palavras de Deus e, portanto, autoritativas.

Outro versículo importante para entendermos a função profética dos tempos veterotestamentários é Êxodo 7.1 que diz o seguinte: “Então disse o Senhor a Moisés: Vê que te constitui como Deus sobre Faraó, e Arão, teu irmão, será teu profeta”(ARA).

Esse versículo nos mostra um quaro interessante. Em situações normais Deus decide se revelar. Objeto dessa revelação é o ser humano. Para revelar-se ao ser humano, Deus se utiliza de meios, de veículos que levem a sua mensagem, e esses veículos são os profetas. O versículo diz que Moisés seria como “Deus” sobre Faraó e Arão seria o profeta que levaria a mensagem de “Deus”.

Então veja que, o ministério profético, surgiu em Israel pouco antes do Êxodo, com o propósito de Deus comunicar sua vontade a seu povo através de meios humanos. Esses profetas traziam a revelação de Deus ao povo, serviam como a boca de Deus.

Nas próximas postagens estarei explicando a natureza dos discursos proféticos e o seu método. Essa primeira parte serviu apenas como introdução para este assunto.



[1] MERRIL. Eugene, História de Israel no Antigo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2001. p.85

[2] Ibid. p. 85

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