Sola Scriptura na busca da verdade

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A Falácia Arminiana no Uso de 1 Timóteo 2.3,4


É comum ouvir pessoas citando 1 Timóteo 2.3,4 para provar que Deus quer de fato que todos os homens sejam salvos indo assim, de encontro a idéia reformada de que Deus já havia predestinado todos aqueles que seriam salvos, e no determinado tempo os daria a fé e o arrependimento e os chamaria irresistivelmente a sua graça. O texto diz o seguinte: “Pois isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade (ARA). Devido a isso, muitos são rápidos em desacreditar de toda a compreensão reformada sobre a doutrina da predestinação e eleição.

Mas a maioria das pessoas que citam esses versículos não tem conhecimento de algumas particularidades que podem mudar o sentido que parece bem claro. Primeiro, é bom que se analise o contexto. Os dois primeiros versículos dizem o seguinte: “Exorto, pois, antes de tudo que se façam súplicas, orações, intercessões, e ações de graças por todos os homens, pelos reis, e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranqüila e sossegada, em toda a piedade e honestidade”. Lendo atentamente estes versos, podemos ver que Paulo se refere à classe de homens e não a homens em geral propriamente. Isto fica claro pela expressão “pelos reis, e por todos os que exercem autoridade”. Então compreender este versículo da seguinte maneira, Paulo exorta que se façam orações pelos homens de todas as classes sociais e principalmente por aqueles que exercem autoridade sobre a sociedade, sendo o objetivo dessa oração uma vida sossegada onde o evangelho pudesse ser pregado e vivido sem oposição. Tendo isso em mente, entendemos que Deus quer que todas as classes (ou tipos) de homens se salvem e não todos os homens de maneira geral.

Outra coisa a que se deve atentar é para o verbo “desejar” que aparece no versículo 4. A palavra grega traduzida por desejar é Thelo que significa, não um desejo que envolva planejamento e ponderação, mas apenas um ato “de ter prazer”, “gostar”. Este verbo tem uma conotação de sentimento. Isso pode ser visto em outros textos no Novo Testamento. Por exemplo: em Marcos 12.38 este verbo é traduzido por “gostar”. Paulo também usou este verbo em Romanos 1.13 onde ele diz que não “quer” que os irmãos da igreja de Roma ignorem que ele já tentou visitá-los, mas havia sido impedido até então. Repare que o querer de Paulo aqui é algo que ele não planejou, mas gostaria que acontecesse. Outro exemplo de uso do verbo thelo é 1 Coríntios 14.5 onde Paulo diz: “Ora, quero que todos vós faleis em línguas, mas muito mais que profetizeis...” Fica claro que Paulo aqui gostaria que todos os irmãos de Coríntios possuíssem o dom de línguas mas que isso não era possível, pois o próprio Paulo diz em 12.29,30: “Porventura são todos apóstolos? são todos profetas? são todos mestres? são todos operadores de milagres? Todos têm dons de curar? falam todos em línguas? interpretam todos?” Paulo gostaria que todos falassem em línguas, mas isso não é possível pois é o Espírito Santo quem distribui os dons de acordo com seu querer (1 Co. 12.11).

Deus quer que todos se salvem no sentido de ele impõe uma responsabilidade sobre o homem ao ordenar que o mesmo responda ao evangelho com fé e arrependimento (Mc 1.15; At 15.30), mas as escrituras nos mostram que a fé e o arrependimento são dons de Deus (Ef 2.8,9; 2 Tm 2.25,26; Fl 1.29; At 11.18) e como nem todos se arrependem e crêem, entendemos que Deus não dá a fé e o arrependimento a todos. Logo Deus não deseja de maneira soberana que todos os homens sejam salvos.

Vi um dia desses na internet um arminiano argumentando que a palavra grega Bulomai (que significa querer de maneira planejada e soberana) aparece em 2 Pe 3.9 onde se diz que Deus “...não quer que ninguém se perca, senão que todos venham a arrepender-se”. Mas há pelo menos duas fraquezas com esse argumento. Primeiro, porque ela não atenta para o contexto. O apóstolo Pedro está escrevendo para crentes aos quais ele chama de amados (um vocativo claramente cristão) duas vezes neste capítulo (vv. 1,8) e no inicio do versículo 9 ele diz que Deus “não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; porém é longânimo para convosco...”. o pronome “convosco” neste versículo liga a longaminidade de Deus aos “amados” dos vv. 1,8 que são os crentes aos quais Pedro escreve. Então aqueles que o Senhor quer de fato que não se percam são na verdade os crentes, e não os não os descrentes e sobre isso acreditamos fielmente que aqueles a quem o Pai predestinou serão salvos no seu tempo e perseverarão até o fim (At 13.28; Rm 8.28-30; Fl 1.6). Ademais, se por acaso o homem tivesse condições de se arrepender por si só, Cristo nunca voltaria, pois sempre haveria pessoas que iriam se converter. A segunda fraqueza desse argumento é porque ele não considera a onipotência de Deus da maneira como deveria. A palavra bulomai que é usada neste versículo significa um querer diliberado e planejado. Se Deus planeja e quer que todos se salvem, por que todos não são salvos? A Bíblia é clara ao afirmar que os propósitos de Deus não podem ser frustrados (Jó 42.2).

Algo muito importante que deve ser ressaltado aqui, é que devemos fazer uma distinção entre a vontade “preceptiva” de Deus e sua vontade “decretativa”, às vezes chamadas de vontade “revelada” e vontade “secreta”. A vontade preceptiva é, como fica bem claro pelo seu nome, sua vontade de preceito, onde Deus revela aquilo que o ser humano deve fazer em relação a obediência a seu Criador. A vontade decretativa de Deus é aquela vontade em que Ele realiza seus propósitos e decretos e nunca é revogada ou frustrada. Um exemplo nos ajudará a compreender esta distinção. Paulo escreve em 1 Tessalonicenses 4.3: “Porque esta é a vontade de Deus, a saber, a vossa santificação...” Este versículo fala claramente do preceito de Deus para nossa santificação, mas em cada crente o grau de santidade varia, mas Deus quer que nos santifiquemos assim como ele quer não matamos, idolatremos ou furtemos. O mesmo Paulo, no entanto, escreve em Romanos 9.19: “Dir-me-ás então. Por que se queixa ele ainda? Pois, quem resiste a sua vontade?” Paulo deixa claro aqui, que essa vontade de Deus é uma vontade soberana na qual ele determina as disposições internas daqueles que realizarão seus propósitos. Devemos entender então, que Deus requer de nós obediência a seus preceitos e mandamentos (vontade preceptiva ou revelada), mas realiza os propósitos que acordo com seu beneplático (Vontade Decretativa ou secreta).

Deus deseja a salvação de todos assim como ele deseja que todos obedeçam a sua lei moral, mas de fato isso não acontece e o próprio Deus não planejou que isso acontecesse. Se houvesse planejado aconteceria, pode ficar certo disso.

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